quarta-feira, 4 de março de 2009

1* - Portugal e as Guerras (A neutralidade)

A Granada, de ouro para os oficiais, colocada na parte superior da manga esquerda das fardas, era uma distinção acordada a todos os membros do exército que tinham participado na Campanha do Rossilhão

  • A Neutralidade:
Quando em Abril de 1792 as guerras da revolução francesa tiveram início, com a declaração de guerra da França ao "Rei da Boémia e da Hungria", Portugal tinha no concerto das nações europeias, o estatuto de neutralidade que desde os remotos tempos de D. João III tentava conseguir.

De facto, desde o tratado do Prado de 11 de Março de 1778 entre D. Maria I e Carlos III de Espanha "de Amizade e Garantia" entre as monarquias ibéricas, mas que em Espanha tinha passado a ter, no acto de ratificação, o título de "Neutralidade, Garantia e Comércio", com ênfase dado à palavra Neutralidade, que é como Carlos III o chamava; assim como desde o "Tratado de Amizade, Navegação e Comércio" entre Portugal e a Rússia de Catarina II, tratado este que vinha no seguimento da "Convenção marítima de Neutralidade Armada", assinada com a Rússia em 13 de Julho de 1782 durante a Guerra da Independência Americana, que Portugal tinha ganho esse estatuto.

Estatuto que tinha sido reconhecido formalmente ao ter sido aceite a mediação de Portugal no conflito provocado pelo estabelecimento de um entreposto comercial britânico na Baía de Nutka (Nootka Sound), na costa americana do Pacífico. A instalação deste estabelecimento comercial, a actual cidade de Vancouver, em território que a Espanha considerava parte das suas possessões na América do Norte, provocou a reacção do vice-rei do México que mandou ocupar o posto e arrear a bandeira britânica, o que aconteceu em Maio de 1789, tendo sido apresado um navio mercante e aprisionado a sua tripulação.

O entreposto de comércio das peles fazia parte dos planos britânicos de reconquista do muito rentável comércio de peles do interior do continente americano, absolutamente necessário ao comércio com a China, e as notícias da acção espanhola, que chegaram ao Reino Unido em Janeiro de 1790, provocaram medidas imediatas de preparação para a guerra, com a aprovação de fundos para a guerra e o armamento de uma frota. A Espanha requereu o apoio da França, de acordo com o "Pacto de Família", mas a recusa de Luís XVI de apoio a Espanha, após a Assembleia Constituinte ter repudiado o Pacto de Família em 26 de Agosto desse ano, obrigou este país a negociar com a Grã-Bretanha. A Espanha foi obrigada a entregar o navio que tinha apresado, a libertar a tripulação, a pagar compensações e, o mais importante, a aceitar a posse da costa a norte da Califórnia pelos britânicos.

O desfecho do caso era favorável à política externa portuguesa, ao provocar a separação entre a França e a Espanha, e o isolamento da potência vizinha de Portugal na Europa. Para além de que Portugal aparecia como tendo apaziguado os ânimos bélicos das duas potências, o que serviu para apresentar a proposta de criação de uma Tríplice Aliança, o corolário lógico da política diplomática da "Viradeira". Mesmo que a proposta não fosse aceite, como nunca foi, mantinha os canais diplomáticos abertos e as soluções bélicas afastadas do relacionamento entre os dois principais aliados de Portugal, e o país diplomaticamente equidistante das duas potências. A política diplomática seguida pelos governos de D. Maria I desde 1778, de aproximação à Espanha, mantendo a Aliança inglesa, ficava assim consolidada.

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