sexta-feira, 27 de março de 2009

- O orgulho de ser português

Vi este artigo e fiquei fascinado pelo mesmo. Espero que o apreciem como eu :)


" O Orgulho de ser Português ", por Armando Carlos Ferreira

Parte I

“ A vida apenas exige uma coisa, que cumpramos o nosso dever”. Leão Tolstói (1828-1910)

Nove milhões de Portugueses, cabem como por milagre, numa única palavra: Portugal! Nove milhões, em princípio, filhos - para o bem e para o mal - de alguns milhões de mães. Todos iguais, em termos de cidadania, mas todos diferentes. Desde logo na côr da pele. Diferenciados na idade. De diferentes idades culturais. Das mais díspares profissões. Quiçá com diferentes matrizes políticas. Umas por convicção, outras de índole panfletária. Outros ainda no fio da navalha, por serôdio comodismo, indiferentes, amorfos, cristalizados, vivendo na expectativa de que outros pensem por eles e no melhor, se possível, lhes resolvam os problemas. São aquilo a que Jean L´Arteguy, designou como os párias do tempo.

Diferentes igualmente, nas suas opções religiosas, pese embora o facto de lá muito no seu interior, se manterem cristãos, maioritariamente não assumidos.

Nestes tempos modernos, em que por laxismo, temos permitido, de forma inconsciente, a implosão dos mais importantes pilares da nossa civilização – a escola, a família e o espírito do altruísmo comunitário – perdeu-se no nevoeiro lusitano, aquela flâmula de servir. Não confundir com servilismo.

Nestes tempos impróbios, coexistem em Portugal, duas noções muito específicas: A Pátria e o País.

A Pátria tem as suas raízes alicerçadas em oito séculos de História, escrita com sangue, suor e lágrimas. É a nossa memória colectiva, assumidos, que sempre foram, os erros e as virtudes. As epopeias e as tragédias. O fausto e a pobreza.

Quando perdemos a nossa memória e as nossas raízes, corremos o risco de nos desintegrarmos.
O País (leia-se Estado) é por imposição, republicano, laico e agnóstico. Escrevo, por imposição, porque tendo como causa remota o crime hediondo e regicida do seu monarca (1) – o rei mais culto da sua geração a nível mundial e de seu filho herdeiro – não resultou de um veredicto popular (vulgo referendum) mas de interesses estrangeiros ocultos, expressos na força das baionetas e da metralha que se traduziu em 90 mortos e 300 feridos, muito aquém da aventura do CEP (Corpo Expedicionário Português, treinado à pressa no Polígono de Tancos) mal equipado, inadequadamente fardado para o teatro de operações, mal municiado e mal alimentado. Duvidas? A título de mero exemplo, de entre muitos, aconselhamos o leitor a ler uma colectânea de livros, da autoria de um conhecido historiador contemporâneo, com espaço num canal televisivo público. Num dos volumes, verificará o depoimento de um seu avô, já falecido, antigo combatente, reafirmar o que garantiu ainda em vida numa entrevista televisiva, que as praças no lamaçal das trincheiras, apenas dispunham de um par de peúgas. Lutaram e muitos morreram com dignidade e heroicidade. Fizeram-no pela Pátria, ou pela República? Julgo que certamente pela primeira, porque a segunda deles fez carne para canhão. Mas porque a História, infelizmente, se repete, este episódio, republicanamente falando, não seria virgem. Repetir-se-ia algumas dezenas de anos mais tarde. Tendo como cenário essa também longínqua – África.

É verdade não ser possível, reescrever a História. Mas não é menos verdade, não a podermos branquear.

Falamos hoje e ainda bem, sobre fenómenos há anos impensáveis, como o “stress pós traumático”, em relação aos ex-combatentes da guerra colonial.

Pessoalmente, conhecemos pessoas nascidas e criadas no Concelho de Torres Vedras, algumas já falecidas, outras ainda vivas, cujos avós foram combatentes na Grande-Guerra (1914-18) todos eles gaseados, os quais morreram com problemas do foro cancerígeno, tal como os filhos, estando aos netos (3ª Geração) diagnosticados de igual modo, cirroses, hepatites, leucemias. Alguma vez, transcorridos quase cem anos, existiu sensibilidade, tempo e independência, para se elaborar um imparcial levantamento científico credível desta e de outras situações?

Em que condições viveram? Que amostras de pensões tiveram? Coleccionaram pensões magnânimas, compaginadas em dimensão ao Convento de Mafra?

Serviram a Pátria, por convicção e ideário. O Estado usou-os em desfiles comemorativos, fez reluzir os seus peitos pejados de condecorações e depois descartou-os. Uns quantos foram para Runa (2), longe dos olhares e das visitas dos seus familiares, demasiado ocupados com o alto índice ocupacional da vida moderna.

A vida, permitiu-me conhecer, embora de forma indirecta, este cenário.

Ao invés de tudo quanto aqui relatamos e o muito que ficou por dizer, sobretudo por falta de espaço, sobrou tempo, imaginação e meios para termos um referendum sobre um crime contra a saúde publica – o aborto clandestino. Verdadeira falácia de poeira para os olhos.

Falemos claro: Capciosamente foi brandida a espada da Saúde Pública. Tema caro, acima de qualquer suspeita.

Mas o que estava por detrás, face às carências financeiras do regime, era o facto dos estimados vinte mil abortos clandestinos, ocorridos por ano, constituírem um mercado underground, ausente de qualquer controlo e livre de quaisquer impostos, desde o IVA, à Segurança Social, acabando no IRS e IRC.

Duvidas? Contas por baixo (defeito) à merceeiro e à antiga, bastará multiplicar o número referido por uma média de setenta contitos cada e obter-se-á uma avultada dimensão. A Saúde Pública, tal como a Escola, são meras falácias do regime republicano, laico e agnóstico, sobretudo quando em pleno século XXI, mais de quinhentos mil portugueses não tem direito a um médico de família.

Porque não se resolveu esse anátema de Portugal estar transformado, num verdadeiro bordel a céu aberto, de Norte a Sul, por estradas, matas, pinhais, ruas, quando não em viaturas em pleno dia, em relação à mais antiga profissão do mundo – a prostituição? Porque razão não se retira esse espectro a céu aberto, criando condições de salubridade e de dignificação, com regras perfeitamente claras, de descontos com direito a reforma? No passado, antes do aparecimento da penicilina (1928/41), tivemos verdadeiros dramas sociais, oriundos sobretudo da sífilis. Hoje na diáspora dos Magalhães, temos o ressurgimento industrial da tuberculose e do HIV (vulgo SIDA). Medo de perder votações em actos eleitorais? Então e a saúde publica?

Perante os problemas de desemprego em catadupa e fome já não disfarçada, tomem lá para entreter, referendos sobre assuntos pseudo-nucleares e não fracturantes da nossa sociedade. Hoje os gays. Amanhã a eutanásia. Depois, talvez e de novo a regionalização. No futuro, porque não o celibato…

No fundo, pouco me importa que o Estado republicano, laico e agnóstico, perca tempo em ejaculações precoces de TGV´s Madrid-Lisboa e não erradamente Lisboa-Madrid, como soa dizer o discurso oficioso do regime.

Podem orgulhosamente continuar a deitar foguetes, pois não tenho duvidas, como certamente muitos dos leitores, que tiveram paciência de nos ler, que serão os nossos Filhos e Netos a andarem esfalfados e tísicos a apanharem as canas da Feira das Vaidades, por outras palavras, a sacralização do poder, pelo poder.

A Pátria, que tem por Rainha a Imaculada Conceição (3) e por Arcanjo protector o Anjo de Portugal, dorme tranquila, incrédula e insuspeita, pese embora a alegoria popular de que “quem cala consente”.

O País, melhor dizendo o Estado, perante os problemas gravíssimos de gastar sumptuosamente, mais daquilo que produz e de se endividar galopantemente – para além das suas fronteiras – a níveis perigosíssimos, em relação ao PIB (Produto Interno Bruto), continua ciclicamente nesse seu hábito, quase secular, de perante os problemas, olhar para o lado a assobiar, de mãos nas algibeiras (seja-me permitido o desaforo, nesta nossa liberdade vigiada) a jogar quiçá, bilhar de bolso…

Reaccionário? Não, necessariamente. Antes, liberal. Por convicção. Somente não gosto, liminarmente, de ser ludibriado.

E como nós, certamente muitos dos Portugueses, os tais discípulos da diáspora e da ditosa Pátria minha Amada.

* Armando Carlos Ferreira

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