quarta-feira, 18 de março de 2009

6* - portugal e a aliança

Portugal entre a Grã-Bretanha e a aliança franco-espanhola. A frente diplomática e a frente militar.

A partir de 1795 Portugal desejará ver reconhecida o seu estatuto de neutralidade pela França, recusando primeiro qualquer mediação espanhola, mais tarde aceitando-a mas recusando a discussão de um tratado de paz, finalmente em 1797, ao mesmo tempo que a Grã-Bretanha, aceitando, a discussão de um tratado, com pagamento de indemnizações mas com recusa de uma aliança ofensiva. A situação diplomática irá manter-se indefinida até 1801, com avanços e recuos nas posições diplomáticas mas sempre na defesa de uma estratégia bem definida.

Para Luís Pinto de Sousa, assim como para uma parte importante da elite governativa portuguesa, conhecida na história como "partido inglês", a aliança inglesa era essencial para a prosperidade económica do país, devido à necessidade do mercado britânico, da vulnerabilidade do comércio português ao ataque da frota britânica e à dependência do abastecimento alimentar de fornecimentos externos.

A aliança seria por isso o fulcro da nossa diplomacia e da nossa defesa em caso de guerra. A novidade em finais do século XVIII é que, com base na experiência da última campanha militar, se achou que Portugal, com a ajuda militar britânica, se conseguiria defender de uma invasão conjunta franco-espanhola.

Por isso, a política de preparação da máquina militar, que tinha começada por volta de 1790, após a nomeação de Luís Pinto para a secretaria da Guerra e do duque de Lafões para o posto de marechal general, continuará em 1796 e nos anos seguintes produzindo melhorias significativas na organização militar, assim:

  • organizaram-se as guarnições dos fortes e fortalezas do Algarve, do Minho e da Beira, as fronteiras em que se achava que a rede de fortalezas daria um contributo eficaz para a defesa;
  • aumentaram-se os efectivos da artilharia e da infantaria, e modernizou-se a organização dos batalhões;
  • criou-se a "Legião de Tropas Ligeiras" e organizaram-se as companhias de caçadores nos regimentos de infantaria;
  • reorganizam-se os antigos Terços de Infantaria Auxiliar, a que se deu o nome de "Regimento de Milícias", ligando estes corpos ainda mais às tropas de linha;
  • criou-se a Brigada Real de Marinha;
  • do ponto de vista do recrutamento, acabou-se com todas as isenções e obrigou-se os detentores e sucessores de bens da coroa e das ordens, de títulos e de vínculos, por junto a aristocracia, a servir no exército ou na armada, ou a inscrever-se no Colégio dos Nobres, ou nas várias Academias militares do país, ou a pagarem uma contribuição equivalente a 20% do valor dos seus bens; de facto uma tentativa relativamente conseguida de militarização da aristocracia portuguesa;
  • criou-se a Sociedade Real Marítima, Geográfica e Militar para fazer o levantamento cartográfico do país e dos territórios ultramarinos, preparando também projectos de desenvolvimento económico, e que juntou numa instituição oficial os engenheiros militares, a oficiais da armada, professores da Universidade e membros da elite científica nacional;
    finalmente, contratou-se um general austríaco, o príncipe de Waldeck, para comandar o exército de campanha em caso de guerra, e um conjunto de oficiais franceses emigrados, dirigidos pelo marquês de La Rosière, para organizarem o estado-maior do Exército.


Para dar corpo a estas modificações e mostrar a intenção de defender o país, criou-se em finais de 1796 um campo de manobras na Azambuja, onde se concentrou uma parte importante do exército, havendo um plano de defesa do país, resumo de vários planos apresentados. Juntando a tudo isto a Grã-Bretanha enviou em 1797 uma força expedicionária de reforço do exército português. As inspecções realizadas pelo príncipe de Waldeck em Março e Abril de 1798, a 10 regimentos de infantaria, mostravam um exército relativamente bem preparado, realizando manobras competentemente, mas com efectivos muito variados, devido a que uns regimentos estavam a pôr em prática os novos regulamentos, com manobras tácticas que não eram inteiramente uniformes e com armas de várias proveniências e tamanhos. Os quatro regimentos de cavalaria inspeccionados nessa altura caracterizavam-se sobretudo por ter cavalos fracos e pequenos.


Entretanto a guerra com o Reino Unido tinha-se tornado para a Espanha um desastre, tendo a frota espanhola sido derrotada na batalha do Cabo São Vicente, em 14 de Fevereiro de 1797, e a ilha da Trindade nas Antilhas sido conquistada poucos dias depois. Os desastres espanhóis levaram Godoy a entrar em conversações com o governo britânico, que tendo sido mal sucedidas, levaram à sua demissão em Março de 1798, acusado pelo Directório francês de, entre outras coisas, não querer atacar Portugal. Para a Grã-Bretanha a situação também não se mostrava muito favorável, já que a França mostrava poder invadir as ilhas britânicas, tendo-o quase conseguido em Dezembro de 1796 na Irlanda, e tendo-o de facto conseguido em Fevereiro de 1797 quando um pequeno número de tropas francesas desembarcaram por um momento em Bristol e incendiaram a cidade. Os motins na frota do Canal em Abril e Maio foram ainda mais preocupantes, pondo em causa a operacionalidade da principal força de defesa da Grã-Bretanha.

Para Portugal a situação, que tinha sido muito preocupante e de preparação para uma invasão conjunta espanhola e francesa no Outono de 1797, devido à assinatura da paz entre a França e a Áustria pelo tratado de Campo Formio de 17 de Outubro, foi-se tornando cada vez mais calma, sobretudo quando se soube que os armamentos navais realizados no sul de França desde princípios da Primavera de 1798 se tinham dirigido para o Egipto. A frota portuguesa do marquês de Nisa, em cruzeiro no Mediterrâneo desde Junho de 1798, sob as ordens de Nelson que por lá navegava desde o mês anterior, na tentativa de descobrir as intenções francesas, assegurava a cooperação luso-britânica na guerra, e na possível defesa de Portugal se a frota francesa de Toulon se tivesse dirigido para a Europa. Cooperação que se manteve neste caso até Janeiro de 1800, época em que a frota regressou a Lisboa.

Nesse mesmo mês de Janeiro de 1800 o exército português viu os seus efectivos reduzidos devido à situação diplomática muito favorável para Portugal, já que o reacender da guerra na Europa devido à vitória de Aboukir em Agosto de 1798, que tinha provocado o isolamento do exército francês no Egipto, afastava o espectro de uma invasão.

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