domingo, 15 de março de 2009

4* - participação portuguesa na Catalunha

Para a análise da campanha na Catalunha tem-se seguido sempre de muito de perto a análise de Latino Coelho, não havendo nenhuma discussão sobre as conclusões que este autor defendeu. Para Latino Coelho, como é sabido, seguindo Luz Soriano, não havia razão para nos termos embrenhado nos problemas europeus, seguindo os interesses britânicos e espanhóis, muito menos havendo razão de atacar a França que não nos tinha declarado guerra.

No seguimento de Borges de Macedo, Valentim Alexandre veio dar uma nova visão sobre o problema diplomático, pondo em causa as opiniões dos dois autores citados, como mostrei. Mas do ponto de vista militar, a situação ainda não foi revista, e é preciso reavaliá-la rapidamente, até porque permitirá aprofundar o estudo inovador do professor Valentim Alexandre.

Assim, é patente que a infantaria, a artilharia e mesmo os vários generais portugueses deram boa conta de si, do ponto de vista profissional. É também patente, que a experiência ganha nos dois anos de campanha não se perdeu, havendo introdução rápida de novidades no regulamento de manobra, com a criação logo em 1795 dos atiradores. Mesmo que alguns autores, como Chaby, Ferreira Gil, Carlos Selvagem, Fernando Taveira, possam afirmar que nada se apreendeu na campanha a verdade é que a legislação de carácter militar promulgada nos anos seguintes demonstra a tentativa de aplicar na prática os conhecimentos ganhos nos Pirinéus.

Mas o mais interessante na história da campanha, é o grave problema disciplinar que foi despoletado no princípio de 1795, pela publicação do relatório da batalha da "Montanha Negra" na Gazeta de Lisboa em Dezembro de 1794. Latino Coelho considera tratar-se de uma grave falta de disciplina, não resolvida convenientemente pelo comandante da divisão, o general Forbes, notando que o caso tinha contornos de repúdio dos oficiais estrangeiros a servir no exército português. Interessantemente, mas sem tirar nenhum tipo de conclusão sobre isso, nota que "os que se diziam agravados eram principalmente [oficiais] de valia na corte, pelas suas relações de parentesco". É de notar a hábil maneira como Latino Coelho, republicano radical, evita constatar que eram todos oficiais oriundos da aristocracia da corte.

O carácter nacionalista do confronto será o ponto central da obra de Raul Brandão, Vida e Morte de Gomes Freire, publicado em 1914, livro que tornará o nacionalismo a base da compreensão deste estranho conflito disciplinar. Há de facto um anacronismo nesta conclusão que não tem sido notado, assim como se não tem notado a antipatia mostrada por este grupo aristocrático para com os, na época, majores Teixeira Rebelo e António da Rosa, os comandantes da artilharia que também foram alvo dos ataques de Gomes Freire.

O interessante é que estas posições de Freire de Andrade se repetirão em 1801, no relatório sobre a incursão na Galiza, e mais tarde em 1803. Voltaremos a este assunto mais abaixo quando falarmos da Guerra das Laranjas, e mais tarde, noutro estudo, quando falarmos das tentativas de reforma do exército de 1803 e dos motins de Campo de Ourique.

1 comentários:

Anónimo disse...

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