sábado, 14 de fevereiro de 2009

- Os Heróis do baluarte


  • Ao dia 27 de Setembro de 1538 surgiu envolta na névoa da manhã, a poderosissíma armada turca,
  • A sua missão: Destruir os portugueses que se encontravam sitiados em Diu. Para isto, como se viessem a qualquer uma festividade, os Turcos decidiram engalanar os seus navios, cheios de "muitos estandartes e bandeiras de seda, os seus tendais com ricos paramentos que lhe rojavam pela água." Também os próprios turcos estavam todos vestidos de "festa e seus tambores e clarins soavam com grande ruído". Com o vento de feição, um navio atrás do outro ia bombardeando com os seus canhões, basiliscos e bombardas, o Baluarte da Vila das Rumes. Esta pequena forificação estava separada da fortaleza principal , pelo que os poucos portugueses que nela se encontravam, nenhuma esperança tinham de socorro.
  • Esta poderosa artilharia muitos danos fez aos nossos, matando muitos portugueses, destruíndo as muralhas do baluarte, causando incêndios, e explosões de pólvora por todo o lado. O ar era irespirável, e fumaça da pólvora afectava a visão dos combatentes. Para piorar, muitos dos canhões portugueses explodiram quando foram disparados. Alguma pólvora encontrada uns meses atrás na cidade foi roubada pelos portugueses, que não sabiam que aquela pólvora se destinava a tiro de mosquete e arcabuz. Pois quando se a utilizou nos canhões este erro foi mortal. Muitos dos nossos morreram nestas explosões, outros ficaram severamente feridos. E ainda pior, ficámos sem nenhum armamento pesado capaz de ripostar.
  • "Durou este bombardear dede que o Sol saiu até às dez horas do dia". Incessante, o bombardeamento turco continuou até às quatro horas da tarde, derrubando uma parte das muralhas, que agora ficavam como escadas prontas ao inimigo subir. O desastre estava iminente.
  • Os capitães turcos, vendo que uma parte da muralha se tinha desmoronado, mandam avançar mais de 700 homens, homens, que deixando os seus navios, e em pequenas barcaças avançam para o baluarte, coberto de fumo. À frente destes, ia um Turco que levava uma "grande bandeira vermelha o qual foi com muita pressa subindo pela derrubada muralha, e atrás deles quanto o lugar podia agasalhar". E assim, subindo pelos destroços vieram os Turcos subindo o nosso baluarte.
  • Eis então que no patamar do baluarte surgem dois portugueses, com lanças muito compridas. A surpresa para os Turcos foi total já que estes pensavam que os portugueses estariam já todos mortos. Também da fortaleza portuguesa, os nossos iam assistindo com muita dor e tristeza, sabendo que nada podiam fazer para os ajudar. "E assim, com lágrimas e vontades, atirando-lhe da fortaleza bombardadas, faziam o possível". Restava-lhes assistir imponentes à desgraça dos seus compatriotas.
  • "Não cessavam, porém, os inimigos de com muita pressa e fervor trabalhar de superar os dois". Mas eles, como o lugar fosse apertado, com tanto ânimo e pouco temor o defendiam, como se todos os companheiros os ajudaram, dando-lhes com as lanças e deitando-lhes panelas de pólvora e outros artificíos que os de dentro lhes davam, fazendo sós" o que todos os outros chamariam de arriscado e perigoso. Desta maneira "pelejaram até ao Sol se pôr, derrubando muitos dos contrários das altas paredes abaixo", sendo apenas estes dois homens que sustinham o peso de tanta gente."
  • A só estes dois os turcos disparavam, e apesar de errarem em muitos desses tiros, por serem muitos causaram grandes feridas aos nossos dois heróis. "Mas nem por isso deixavam de mui esforçadamente pelejar, e tanto o fizeram, até que os inimigos desesperaram de aquela vez o tomar, e assim confundidos, de mal seu grado desceram, correndo espalhados uns por um lado e outros por outra, para que os portugueses não lhe dessem tiros da fortaleza, e assim recolheram aos seus navios, ainda estupefactos com tão esforçados homens que enfrentaram". Um deles chamava-se António Pinheiro, de apenas 25 anos, filho de um cavaleiro de Faro. Do outro não sabemos a sua identidade. Fica aqui a homenagem aos Heróis do Baluarte da Vila dos Rumes.

O Primeiro Cerco de Diu, Lopo de Sousa Coutinho

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