segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

- A Cruz de Cristo sobe outra vez!


No dia seguinte ao devastador ataque sofrido pelo Baluarte da Vila dos Rumes, consultado o Capitão António de Silveira e discutido por todos, decidiu-se que face à impossibilidade de defesa perante novo ataque dos Turcos, os portugueses que estavam nesse baluarte deveriam aceitar a rendição proposta pelos Turcos, que previa que todos seriam bem-tratados e que nenhum mal se provocasse aos portugueses.

Pois assim acordado, nessa manhã começaram a subir ao baluarte soldados turcos. Desta vez não houve resitência por parte dos portugueses, e assim em pouco tempo os Turcos entraram na fortificação portuguesa. Contudo algo diferente do esperado aconteceu.

Da fortaleza portuguesa de Diu, os soldados portugueses nas muralhas assistiam à rendição dos seus compatriotas ao longe. No entanto algo parecia estranho. Parecia que se combatia. Efectivamente, não cumprindo a sua palavra, os Turcos começaram a mal-tratar os portugueses, despindo-os e roubando os seus pertences. Nada do que fora prometido estava a ser cumprido! Para piorar a situação, houve um acontecimento que muito entristeceu os portugueses.

Do alto do baluarte, viram ser deitada abaixo a bandeira da Cruz de Cristo colocada pelos portugueses, e em seu lugar hasteada uma "grande e farpada bandeira vermelha, divisa e insígnias do grão-turco". Esta vista provocou as lágrimas em muitos portugueses, ainda mais quando viram como a nossa bandeira era tratada com tanto desprezo pelos turcos, como se de um trapo se tratasse.

Entre os portugueses que tinham sido encostados ao muro do baluarte como prisioneiros, estava João Pires, "um homem já velho e cansado, o qual, no tempo que as forças o puderam ajudar, viu-se nele sempre muita valentia e juntamente mui amigo de Deus". Este, revoltando-se com o que via, irrompeu subitamente contra os guardas turcos que os vigiavam, de tal maneira que deixou os seus compatriotas espantados. A seguir, chamando seis ou sete portugueses que se libertaram e o quiseram acompanhar, dirigiu-se pelo meio da confusão e dos inimigos que os queriam parar, até à bandeira turca. Tirando-a do seu lugar, "a deitou fora do baluarte quão longe suas fracas forças puderam" de imediato, levantou de novo a bandeira da Cruz de Cristo!

Quando isto viram, os portugueses que da fortaleza assistiam, de novo irromperam em lágrimas, vendo hastear de novo a bandeira que Deus encomendou aos Portugueses para as suas navegações e conquistas! Os turcos, vendo o que se passava, e ao mesmo tempo confusos, dirigiram-se até aos revoltosos portugueses e lutando com eles, conseguiram hastear de novo outra bandeira turca.

E conta-nos Lopo de Sousa Coutinho, que "assim por três ou quantro vezes foi erguida uma e baixada outra, até que os turcos mataram os ditos homens e os lançaram no rio, e com isto ficou a bandeira turca segura".

"Estes portugueses que desta maneira foram mortos e lançados no dito rio trouxe-os a água à fortaleza", sinal interpretado como sendo de Deus, que queria que estes portugueses seus servos e mártires, que tão bem defenderam a bandeira de Nosso Senhor e Portugal, fossem colocados em lugar sagrado".

O Primeiro Cerco de Diu, Lopo de Sousa Coutinho

1 comentários:

Anónimo disse...

Verdadeiros Heróis, merecedores dos mais altos Galardões Nacionais e com direito a que os seus Nomes sejam invocados para todo o Sempre em Portugal!